Professora com "Pensamentos Voadores"

Às vezes penso que penso a vida a sonhar

I

Às vezes penso que penso a vida a sonhar
Ou sonho a viver nem sei muito bem apartar
Há quase sempre uma espécie de névoa nos meus olhos
Como se estivessem rasos de lágrimas

Revivo em cada momento todos os momentos
Do meu mundo e de outros mundos
Sinto-me a andar devagar
Sempre a percorrer veredas
Ora de luz ora de sombra
Mas sem fim

Às vezes há rosas às vezes espinhos
E nada disto é meu
Nada possuo porque nada se fixa realmente
Mas respiro profundamente
E nada disto é eu

Repenso o milagre da vida
A mágoa de existir
E não compreendo o tempo
Não compreendo as coordenadas da humanidade
Não sei calcular sentimentos

Muitas vezes sinto que chega
Basta
Outras sorrio a cada raio de sol
E assim me maravilho
Assim
Me dói a realidade
E
Me quedo no absorvimento

II
Às vezes grito que não vou por aí
E percebo porque grito
Às vezes grito para dentro e de dentro
E não sei porquê
Às vezes olho os meus olhos no espelho
E não sou eu que encontro

Aquela luz do outro lado do espelho
Brilha no negrume
E fala
Mas tão alto que me fere e confunde

Este meu ser estranho
Que me persegue
Entre a beleza pura e a aberração
Paralisa-me
De espanto
E ali me detenho sem tempo

Às vezes penso que me encontro
No escuro luzente do espelho
Que me falo e entendo
Às vezes penso que perco para sempre
E lá estou outra vez
Tão estranhamente reflectida
(Jacinta)

Qualquer forma de arte é sempre uma lufada de ar fresco que nos entra no pensamento e na alma. Felizmente, ainda há professoras que têm pensamentos voadores e nos fazem, através de uma explosão de impressões de cor e de forma, despertar os nossos sentidos.