De-pressão
Às vezes ponho-me a pensar por que razão há tanta gente deprimida. É claro que motivos não nos faltam: Portugal está na cauda dos países europeus; vivemos uma crise económica que nos faz constantemente apertar o cinto; desinveste-se na educação e na cultura; enfim, corta-se no essencial e investe-se no acessório como o aeroporto da Ota.
Ainda assim penso que motivos nunca nos faltaram para nos sentirmos deprimidos. O que mudou, de facto, foi o conceito de depressão. Hoje está na moda meter todos os sintomas no mesmo saco e rotulá-los de depressão. Dá mais jeito aos clínicos e às indústrias farmacêuticas que proliferam e nos fazem gastar rios de dinheiro numa espécie de ópio que atenua os sintomas mas não actua na suas causas.
No fundo não sei se também há muito interesse, por parte dos deprimidos, em saber o que realmente os deprime. É mais fácil a chamada terceira via, aquela que atordoa e não deixa pensar, muito menos agir e mudar.
8 Comments:
At 10/1/06 12:00, Anónimo said…
É bem verdade, esta pressão tornada depressão é sinal dos tempos. Mas quais serão as causas? O problema, na minha opinião, é ontológico e não psicológico, mas isso os psiquiatras não compreendem.
At 12/1/06 22:57, Anónimo said…
Será possível criar medicamentos que actuem sobre causas de depressão? Será que um deprimido pode deixar de o ser se souber o que o levou a tal? É que as depressões costumam ter efeitos físicos que afectam a qualidade de vida. Não me refiro àqueles que andam tristes e queixosos e que têm ataques de mau humor, mas sim aos que têm úlceras, taquicardia, falta de ar, dores de todo o tipo, alergias, tonturas, insónias, etc. Será que, sabendo as causas, estes sintomas desapareceriam? Será que surgem porque é moda?
É certo que a atitude influencia muito mas há limites que todos temos (cada um tem o seu) e que por vezes são ultrapassados sem a nossa permissão. Quando isso acontece penso que devemos agradecer a certos medicamentos a possibilidade de manter a nossa estabilidade no dia-a-dia. Não valerão então os tais rios de dinheiro que damos por eles?
At 13/1/06 00:03, Anónimo said…
Será que grande parte dos problemas como as úlceras, taquicardia, tonturas, insónias, etc.não surgem pelo facto de se somatizar um conjunto de problemas com os quais não sabemos lidar ou resolver? Claro que os fármacos podem sempre ajudar a aliviar o sintoma e, em determinadas alturas, são importantes. O que me parece é que não têm um efeito sobre a causa do problema e mais tarde ou mais cedo o sintoma volta a surgir. Para tratar do sintoma há também outras práticas como, por exemplo, a psicanálise que, também é certo, nos faz gastar rios de dinheiro. A diferença está em saber o que se quer, isto é, saber porque são ultrapassados certos limites sem a nossa permissão ou, caso se opte pelos fármacos, silenciar o que nos leva a fazer perder os limites.
At 13/1/06 16:25, Anónimo said…
Do meu ponto de vista, estamos perante uma espécie de depressão sazonal que, com o decorrer dos tempos, se liberta dessa denominação tornando-se permanente.
Estudos realizados em empresas nos Estados Unidos, Espanha e Brasil afirmam claramente que as alterações de humor após períodos de descanso são típicos das sociedades desenvolvidas e afectam, em média, cerca de 35% dos trabalhadores. O regresso de férias é brutal e por incrível que pareça existem já vozes que se levantam na defesa deste ponto. O trabalho, o stress, a falta de tempo para a família e consequente sentimento de remorso, são a chave de alguns tipos de depressão, todos eles interligados na sua componente sazonal.
Não me parece que o xanax seja a solução.
Nelson Guerra
At 15/1/06 19:45, jacinta said…
Os medicamentos têm a sua validade e não me refiro só à sua conservação. E quando tudo se torna insuportável ao ponto de já nada fazer sentido é bom que eles estejam lá para aliviar a dor, mesmo quando é da "alma" que ela vem. Agora pergunto-me não serão perigosos esses medicamentos que constroem uma falsa alegria, um entusiasmo que na verdade não existe. Pergunto-me ainda se quando uma pessoa tem tendência a desistir de tudo, nessa ditas crises sazonais, ou na doença bipolar, de que agora se fala muito, quando toma alguns medicamentos milagrosos, não correrá o risco de perder o pouco controle que já tem sobre os seus actos. Não poderão eles vencer as barreiras do medo e dar uma força destruidora a quem já tem tendência para se auto-destruir?
Pergunto-me eu mas com consciência de que esse estado de atordoamento é mais do que nunca desejado, dado que a desilusão em relação ao mundo que construimos (ou destruimos) é cada vez maior. às vezes apetece não pensar, não ver, não sentir até....
At 20/1/06 13:40, Anónimo said…
Não saber lidar ou resolver os problemas é uma coisa, não poder eliminar as suas causas, por serem exteriores a nós por exemplo, é outra.
Um medicamento pode também ajudar a ganhar o controle em vez vez de o fazer perder.
Concordo com com muito do que aqui dizem, mas quis chamar a atenção para a relatividade de tudo na vida.
Penso, acima de tudo, que quando nos sentimos impotentes para resolver certas situações devemos sempre procurar os especialistas, nos quais devemos confiar.
Não será mais feliz o atordoado que não pensa, não vê, não sente até? Porque será isso uma falsa alegria? e, mesmo que o seja, porque não será isso válido?
Como diz o provérbio: "De médico e de louco, todos temos um pouco."
At 20/1/06 19:26, jacinta said…
As causas da depressão, ainda que haja factores exteriores,não são exteriores ao indivíduo que a experimenta. É a forma como o individuo gere o que o rodeia, o que lhe acontece ou não, que pode desencadear reacções mais ou menos positivas, mais ou menos controladas. Talvez esse seja o problema, diria mesmo a causa das depressões, o medo de buscar em nós as causas. Também me parece que tudo é válido e ninguém sabe o que vai na alma de cada um e cada qual. No entanto, é certo que só em nós podemos fazer mudanças e assim sendo só em nós podemos encontrar razões e/soluções.
Independentemente da nossa perspectiva, não deve ser nosso intuito julgar mas sim compreender, estas e outras questões. O que nem sempre é fácil, dada a nossa educação.
At 27/1/06 23:40, Anónimo said…
Não será a depressão um "problema de (falta de) expressão", como dizem os "clã"?
Aprender a exprimir-se melhor em vez de de-primir-se; eis um remédio farmaco-logica-mente interessante.
Haverá laboratórios que fabriquem disto?
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