linguasafiadas

Desatamos aqui a língua com pimenta e piri-piri q.b. para não picar o melindre!

24.3.06

Onde está o Panda?

E o Panda está... pintado num cabelo humano, em exibição numa galeria de arte chinesa e só se consegue ver ao microscópio. O micro-pintor chinês Jin Yin Hua serviu-se de um único pêlo de coelho para o pintar. Demorou dez dias e o resultado é este. Voilà!

23.3.06

Ah, l'amour...


SONETO XXV

Antes de amarte, amor, nada era mío:
vacilé por las calles y las cosas:
nada contaba ni tenía nombre:
el mundo era del aire que esperaba.

Yo conocí salones cenicientos,
túneles habitados por la luna,
hangares crueles que se despedían,
preguntas que insistían en la arena.

Todo estaba vacío, muerto y mudo,
caído, abandonado y decaído,
todo era inalienablemente ajeno,

todo era de los otros y de nadie,
hasta que tu belleza y tu pobreza
llenaron el otoño de regalos.

PABLO NERUDA, Cien Sonetos de Amor (1959)

22.3.06

P O E S I A...



SOBRE A PALAVRA
Entre a folha branca e o gume do olhar
a boca envelhece.
Sobre a palavra
a noite aproxima-se da chama.
Assim se morre dizias tu.
Assim se morre dizia o vento acariciando-te a cintura.
Na porosa fronteira do silêncio
a mão ilumina a terra inacabada.
Interminavelmente
Eugénio de Andrade

16.3.06

Nanotecnologia


Para os meus alunos do 11º ano.
O maravilhoso nanomundo pode também ser descoberto através deste site: perso.wanadoo.fr/nanotechnologie/Main%20Netscape/Sommaire1.htm
Não deixem de o visitar!

Dia do Pai/Ausência do Pai..

Dia 19 de Março comemora-se o dia do pai, ou a ausência do pai. Uns compram presentes que entregam em mãos, outros constroem presentes para pais imaginários, outros ainda fazem peregrinações aos locais onde erigiram um santuário ao corpo já ausente de seu pai e aí depositam flores, velas, dizeres..
Pensava eu agora na palavra Pai, e estranhamente soou-me vazia de sentido, palavra curta, uma única sílaba. Se dissermos a palavra e a deixarmos ecoar, não faz sentido algum. Parece até oca, ecoa apenas.
Mas depois penso nos caminhos, no referente que me cruza com ela e que me foge dela. E são tantos os caminhos, são tantos os sentidos que despertam.
Estes caminhos que tantas vezes se cruzavam e separavam dele, incessantemente, acreditava...
E depois? E agora? Uma imagem sorridente que já não posso tocar, tantos lugares que lhe pertencem, onde apenas paira a memória das suas mãos, dos seus gestos, do seu estar tão único. Os objectos que lhe pertencem, os que construiu. O seu espaço, será sempre o seu espaço, que habitou, que percorreu, que criou.
E eu, e nós que fazemos parte dele e do seu espaço?
Vemos imagens nubladas de caminhos percorridos em comum, caminhos diferentes mas sentidos em comum. Vemos sempre um sorriso mesmo quando as lágrimas teimam em ofuscar o olhar.....
E tudo nos mostra que continua sempre a percorrer caminhos connosco, apenas para nos acompanhar, para nos aquecer um pouco o coração, para não nos sentirmos abandonados.

7.3.06

El silencio



El silencio
Oye, hijo mío, el silencio,
Es un silencio ondulado,
un silencio
donde resbalan valles y ecos
y que inclina las frentes
hacia el suelo.
Federico Garcia Lorca

Dia Internacional da Mulher


Porquê 8 de Março?

Neste dia, do ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias que, nas suas 16 horas, recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas. Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher". De então para cá o movimento a favor da emancipação da mulher tem tomado forma, tanto em Portugal como no resto do mundo.


CORPO

Corpo serenamente construído
Para uma vida que depois se perde
Em fúria e em desencontro erguidos
Contra a pureza inteira dos teus ombros.

Pudesse eu reter-te no espelho
Ausente e mudo a todo outro convívio
Reter o claro nó dos teus joelhos
Que vão rasgando o vidro dos espelhos.

Pudesse eu reter-te nessas tardes
Que desenhavam a linha dos teus flancos
Rodeados pelo ar agradecido.

Corpo brilhante de nudez intensa
Por sucessivas ondas construído
Em colunas assente como um templo.

Sophia de Mello Breyner Andresen in Mar Novo