O jogo "dominó" tem a sua própria gramática de funcionamento. Quando as peças se colocam na vertical e em fila e a primeira peça é derrubada, toda a sequência de peças se desmorona. Há palavras que têm em nós o mesmo efeito.
Dizia-me o outro dia uma amiga que:
"Todos nós temos feridas e há algumas que custam a sarar!". Não sei porquê, mas esta palavra - ferida- fez com que um conjunto de imagens, sensações e sentimentos disparassem em catadupa na minha mente. Veio-me à memória um quadro da Frida Kahlo,lembrei-me da ferida umbilical, de uma ferida sangrenta que o meu pai teve quando eu era criança e das feridas de amor.
Esta associação livre de imagens deixou-me, naturalmente, a pensar o que cada um faz com as suas feridas. Há aqueles que lhes dão cor numa tela, outros que as embelezam com piercings e outros, se calhar a maioria, fica deprimido pois, ou não encontra uma forma de canalizar a dor que resulta da ferida, ou nem sequer sabe a sua causa.
Não haverá uma ferida existencial?
O que é certo é que as feridas deixam sempre cicatriz, isto é, há e haverá sempre em nós o registo da sua existência.